Após verão com medidas de distanciamento mais relaxadas, países do continente voltaram a registrar alta de casos
Na semana que passou, a retomada do crescimento de casos da covid-19 na Europa confirmou a percepção de que os países do continente vivem uma nova crise por causa da doença. Um número grande de nações registra recordes históricos de infeções por dia, depois de um período de relaxamento das medidas de distanciamento durante o verão europeu. O cenário é um alerta para o mundo, inclusive o Brasil, sobre a necessidade de manutenção de medidas de distanciamento.
Na terça-feira (13), a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou que foram confirmados mais de 700 mil novos contaminados ao longo da semana que se encerrou em no último dia 10. O patamar corresponde a um aumento de 34% na comparação com o período anterior. A alta no número de óbitos foi de 16%. O crescimento de mortes não acompanha a alta de casos na mesma medida observada no início do ano. Mas a OMS alerta que as consequências ainda podem estar por vir.
A alta de casos pode estar relacionada a maior testagem, mas o volume de novos contaminados não pode ser explicado somente por esse fator. Uma parte considerável dos pacientes é composta por jovens, justamente os que mais foram às ruas para atividades que vão do trabalho ao lazer. Os índices menores de mortes também podem estar ligados ao fato de que pacientes em idades menos avançadas costumam ter a forma leve da covid-19.
Em participação no podcast A Covid-19 na Semana, o médico de família Aristóteles Cardona, da Rede Nacional de Médicas e Médicos Populares, afirma que ainda é cedo para conclusões dessa natureza. A única certeza até o momento, é que o isolamento social tem papel fundamental no controle da propagação.
“Normalmente, após duas ou três semanas é que a gente vê uma consequência maior. Obviamente vai depender muito dessas medidas que estão sendo tomadas na Europa neste momento.”
A Alemanha também registou números recordes, com mais de 7,3 mil novos casos somente na sexta-feira (16). Nas cidades mais afetadas, o governo proibiu aglomerações até o fim do ano. Quem chega de países com alto risco de contaminação precisa ficar isolado por duas semanas. A multa para quem estiver sem máscara em via pública é de 50 euros.
A Itália tem novas restrições em vigor desde a quarta-feira (14). Festas de qualquer natureza, inclusive ao ar livre, estão proibidas. Há restrição no horário de funcionamento de bares e restaurantes. O país, que viveu situação de caos no primeiro semestre por causa do coronavírus, registrou mais de 10 mil casos na sexta-feira (16), patamar que não foi observado nem nos piores momentos do surto.
Na Espanha, a capital Madri está em confinamento parcial desde a semana passada. Os bares e restaurantes da Catalunha só podem trabalhar com entregas e retiradas pelas próximas duas semanas. Lojas, shoppings e academias precisam respeitar limitação de público. O país também tem registrado recordes de novos casos diários nas últimas semanas.
Exemplo para o Brasil
O relaxamento no isolamento e nas restrições à circulação e viagens é o único fator comum entre essas nações. São países com governo de ideologias diferentes, sistemas de saúde diversos e hábitos culturais e sociais muitas vezes quase opostos. “Mais uma vez, são indícios fortes de que as medidas de distanciamento e isolamento são importantíssimas”, afirma Arístoteles Cardona. O médico completa, “Essa experiência deve nos servir como exemplo. A gente deve passar por algo parecido nas próximas semanas”.
Para o médico, o Brasil ainda tem mais uma desvantagem em relação aos países europeus, “Aqui não aconteceu uma queda brusca de casos e mortes como a gente viu na Europa. O governo federal foi muito pouco responsável com relação a isso. Apesar do governo, a população tomou os cuidados necessários. Mas com o passar do tempo a gente viu um relaxamento. Essa situação da Europa deve servir como um um grande alerta para o que gente pode ter que enfrentar.”
Edição: Aurélio Fidêncio
Matéria: Nara Lacerda
Fonte: Rádio Brasil de Fato
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