Diagnóstico precoce diminui, em média, o número de mortes pelo câncer de mama em 30%
Como ironia do destino, a assistente social Taline Libiano da Cruz, de 38 anos, descobriu o câncer de mama justamente quando fez uma cirurgia preventiva. Ela retirou as duas mamas após descobrir uma mudança genética e risco superior a 80% de desenvolver a doença. Porém, a biópsia indicou a presença de tumores no seio esquerdo. Graças ao diagnóstico precoce, apesar do estágio avançado, a servidora pública conseguiu vencer o câncer. E é a detecção precoce um dos fatores mais importantes para o sucesso do tratamento, pois eleva em 70% as chances de cura. A afirmação é do mastologista e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Sorocaba Alexandre Vicente de Andrade, de 57 anos.
Segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Brasil, estimam-se 66.280 casos novos de câncer de mama por ano. O número corresponde a um risco estimado de 61 casos novos a cada 100 mil mulheres. Sem considerar os tumores de pele, a doença ocupa a primeira posição mais frequente em todas as regiões brasileiras. No sudeste, o risco estimado é de 81 casos para cada 100 mil mulheres. No Estado de São Paulo, são 18.280 novas confirmações por ano. Em nota, o Inca afirmou não dispor de números de casos diagnosticados nem as estimativas por municípios.
Conforme o médico Alexandre Andrade, o câncer de mama decorre da proliferação irregular das células. Ele explica que elas perdem o controle de crescimento normal e passam a se dividir de forma descontrolada, gerando tumores. Há diversos tipos desse mal. De acordo com o especialista, as causas exatas da doença ainda são desconhecidas. Porém, há fatores de risco, como a hereditariedade, chamada de fator não modificável, o principal. Em grau menor, há outros fatores, como obesidade, gravidez tardia (após os 30 anos) e a não amamentação.
A doença acomete, sobretudo, mulheres, a partir de 55 anos, especialmente as com menopausa tardia. Isso se deve a “um acúmulo de mutações que vão ocorrendo durante a vida nas células”, esclareceu Andrade.
Porém, pode aparecer em homens também. “Em média, 1% dos casos de câncer de mama é em homens”, informa o mastologista.
Prevenção primária
O especialista elencou que os sintomas mais frequentes são o surgimento de nódulos, tanto nos seios como nas axilas. Outros menos constantes são saída de sangue e alterações nos mamilos, como a retração da pele. “Caroços indicam estágios avançados da doença. Por isso, diante de qualquer um desse sinais, a pessoa deve procurar o médico imediatamente, para, se for confirmada a doença, iniciar o tratamento o quanto antes”, informa.
De acordo com Andrade, o ideal é tentar descobrir o câncer em fases iniciais, antes do aparecimento dos nódulos. Para tanto, a prevenção primária é essencial, com o rastreamento por meio de mamografia anual a partir dos 40 anos de idade. Já mulheres com histórico familiar devem iniciar o exame dez anos antes da idade em que o parente teve o câncer detectado. O autoexame é igualmente necessário. Uma vez por mês, sete dias após o início da menstruação, a mulher deve apalpar a mama em busca de anormalidades. Depois da menopausa, deve-se escolher um dia no mês para fazê-lo.
Esses cuidados, de acordo com o médico, favorecem o diagnóstico precoce e, consequentemente, os resultados do tratamento. “O diagnóstico precoce diminui, em média, o número de mortes (pelo câncer de mama) em 30%”, afirma. E é para chamar a atenção para a prevenção que este mês ganha o nome de Outubro Rosa.
Tratamentos avançam
Atualmente, os tratamentos contra a doença vão além da químio e da radioterapia. De acordo com Andrade, dois avanços são o uso de medicações com anticorpos monoclonais e novas hormonioterapias. Anticorpos monoclonais são proteínas do próprio organismo que ajudam o sistema imunológico a combater vírus, bactérias e o câncer. Já a hormonioterapia inibe o crescimento do câncer pela retirada do hormônio da circulação ou pela introdução de uma substância com efeito contrário ao hormônio.
Segundo o mastologista, os tratamentos também estão mais pormenorizados. Isto é, de acordo com as especialidades de cada tipo de câncer e paciente. Assim, o resultado tende a ser mais efetivo. “Existem determinados tipos de câncer que apresentam respostas boas a algumas medicações específicas. Se conseguirmos identificar quais são esses tumores, conseguimos aplicar drogas que atuam especificamente contra eles”, explica.
Amparo psicológico é fundamental
A confirmação do câncer pode abalar emocionalmente a paciente. Por isso, recomenda-se buscar acompanhamento com psicólogo ou grupos de apoio durante o tratamento. A psicóloga Maria Isis Barros Martins, de 64 anos, atende pacientes na Liga Sorocabana de Combate ao Câncer. Segundo ela, ao receber o diagnóstico, a primeira reação da mulher é desenvolver medo, principalmente da morte. Com isso, tende a se sentir impotente e imobilizada.
Nesse sentido, a profissional explica que a terapia, em seu primeiro passo, a partir da análise da realidade de cada paciente, acolhe emocionalmente. As terapias auxiliam, sobretudo, a lidar com os diferentes sentimentos gerados pela descoberta da doença. Dessa forma, esse apoio também contribui para motivá-las a encarar o tratamento e a evitar possíveis desejos de desistência.
“É como se o terapeuta a ajudasse a olhar para si mesma e encontrar as qualidades dela, as forças que vão ajudá-la a enfrentar cada etapa”, diz.“O medo, a raiva, a tristeza são sentimentos naturais que nos impactam frente a um diagnóstico do qual a paciente não tem controle, mas ela não pode deixar que esses sentimentos a paralisem, a deixem impotente”, completa.
Além disso, os psicólogos esclarecem sobre crenças, mitos, preconceitos e informações deturpadas acerca do câncer de mama. Igualmente, ajudam-nas a entender a importância de contar com apoio. A terapeuta disse que, muitas vezes, por preocupação com a família e amigos, por exemplo, as mulheres tentam se mostrar sempre fortes. Porém, a conduta deve ser contrária: elas têm de pedir auxílio a esses núcleos e estar abertas a receber apoio.
A psicóloga informou ainda que a doença abala não só a paciente, como, também, as pessoas a seu redor, principalmente, a família. Por isso, os familiares também devem criar uma rede de suporte. Assim, todos conseguirão passar por esse momento juntos, da melhor maneira possível. “A família tem de acolher a paciente e se acolher. Tem de ter a coragem de, todo mundo junto, expor: ‘Estamos com medo.’ Tem de chorar junto, ter raiva junto”, explica. “Quando somos capazes de expor a nossa fragilidade e acolhe-la, num primeiro momento, pode vir choro, raiva, medo, mas, quando falamos abertamente sobre esses sentimentos, nos fortalecemos para ver como vamos enfrentar a situação”, completa.
Efeitos colaterais
Durante o tratamento, a autoestima das mulheres pode ficar abalada, devido aos efeitos colaterais, como a queda de cabelo. Segundo Maria Isis, o processo terapêutico, da mesma forma, dá-lhes suporte para acolher e portar-se diante dos sentimentos causados pela perda dos fios.
Dessa forma, os impactos na autoestima diminuem, e elas se sentem mais dispostas a lutar contra o câncer. “Você a ajuda a ver que isso é uma coisa temporária e que ela está lutando pela vida. (Assim), ela não deixa que o efeito colateral a assuste e a imobilize”, assinala.
Jornalista: Aurélio Fidêncio
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